Campo Grande (MS), Quarta-feira, 16 de Julho de 2025

Artigo

Lições de honestidade de meu velho Pai

16/07/2025

08:45

WILSON AQUINO

WILSON AQUINO*

Vivemos dias sombrios no Brasil, em que a desonestidade se banalizou de tal maneira que até mesmo autoridades — aquelas que deveriam ser o exemplo máximo de integridade e honradez — protagonizam escândalos de corrupção, lesando o patrimônio público em benefício próprio e alimentando esquemas que favorecem grupos restritos, em detrimento da coletividade. Diante disso, me pego muitas vezes refletindo: onde tudo isso começa? Como é que jovens e adultos, inclusive vindos de famílias aparentemente bem estruturadas, caem na tentação de furtar, roubar e enganar? Que tipo de educação moral receberam?

Não é possível dissociar essa crise de caráter da falência, em muitos lares, da formação ética. A escola tem seu papel, sem dúvida, mas a base é o lar. É no seio da família que o senso de certo e errado deve ser ensinado com firmeza e exemplo. E a honestidade não se aprende com discursos genéricos, mas com atitudes concretas, repetidas no cotidiano. O que se planta no coração de uma criança, germina no comportamento do adulto.

Lembro-me de uma recomendação que sempre dou aos pais, inclusive a mim mesmo: ao chegar da escola, revisem a mochila dos seus filhos. Verifiquem se os objetos que ali estão — mesmo os mais simples, como lápis e borracha — são os mesmos que vocês compraram. Parece exagero, mas é nesse nível que se molda o caráter. Um simples lápis “trazido por engano” pode ser o primeiro passo para a normalização do furto. Se esse ato não for corrigido com diálogo firme e carinhoso, pode se enraizar e se tornar hábito.

O campo fértil da desonestidade ainda se amplia quando a educação, em vez de ensinar responsabilidade e mérito, instila ressentimentos sociais, promovendo uma visão de “nós contra eles” — pobres contra ricos — como se a injustiça social justificasse o erro individual. Nada justifica a desonestidade. Nenhuma ideologia redime o roubo, o engano ou o abuso de poder.

A honestidade é uma virtude que nasce no espírito e é nutrida pelo exemplo. Mesmo os que não tiveram pais presentes ou uma formação religiosa sólida podem desenvolver um caráter íntegro se forem expostos a boas influências, exemplos corretos e escolhas conscientes. Mas para a maioria, o lar é a escola onde a consciência moral é moldada. Como dizia meu pai: “Você pode ensinar o certo com palavras, mas só forma caráter com o exemplo.” Não adianta exigir de um filho que seja honesto, se dentro de casa ele presencia pequenos atos de engano, mentira ou desrespeito à propriedade alheia.

A Palavra de Deus confirma essa verdade com clareza. Em Provérbios 22:6, lemos: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” Essa instrução não é apenas ensinar o que está certo, mas mostrar com ações, com o que se vive. Jesus Cristo também foi firme ao ensinar a integridade: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não” (Mateus 5:37). O Filho de Deus, em sua vida mortal, jamais cedeu à tentação de tirar vantagem de ninguém — e foi por isso que se tornou o exemplo perfeito de retidão.

A desonestidade nunca é um pecado isolado — ela contamina, corrói e destrói. Um político que desvia verba da saúde não está apenas cometendo um crime técnico, mas tirando a vida de pessoas que ficaram sem atendimento. Um empresário que frauda impostos, um servidor que aceita propina ou um cidadão que mente para se beneficiar de programas sociais está ferindo o pacto coletivo de justiça e equidade. O pequeno ato desonesto de hoje é a injustiça institucionalizada de amanhã.

Por isso, é urgente que nossos líderes — sejam eles políticos, religiosos, educadores ou formadores de opinião — entendam a responsabilidade de seu exemplo. Não há sociedade que prospere onde os que deveriam guiar se entregam à mentira e ao roubo. Como disse certa vez o profeta Isaías: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal” (Isaías 5:20). Quando a sociedade perde a capacidade de se indignar com o errado, e até o justifica, instala-se o caos moral.

Cabe a cada um de nós a missão de ser um guardião da honestidade. Que não aceitemos o “jeitinho” como desculpa, nem o silêncio como conivência. Que formemos nossos filhos como homens e mulheres de verdade, capazes de devolver uma moeda caída, de resistir à tentação de mentir, de honrar cada compromisso assumido. A reconstrução do Brasil não se fará apenas com reformas econômicas ou políticas — mas com uma reforma moral nas famílias, nas escolas, nas igrejas e em cada coração.

Nunca me esqueço da primeira grande lição prática que recebi de meu pai, Manoel Dantas de Oliveira — um baiano honrado e aventureiro que deixou sua terra natal para servir à Pátria na Marinha do Brasil, na cidade de Corumbá-MS, na década de 50. Eu tinha menos de 10 anos quando encontrei, no caminho da escola, uma bola de futebol perdida em meio a arbustos. Voltei para casa empolgado, acreditando que havia sido premiado pela sorte. Mas meu pai, com aquele olhar firme e ao mesmo tempo sereno, me chamou, olhou nos meus olhos e me disse com voz calma, porém inegociável: “Essa bola não é sua. Volte e coloque-a exatamente onde a encontrou. O que não é seu, não deve estar com você.”

Naquele momento, entendi — não com palavras, mas com a força do exemplo — o verdadeiro sentido da honestidade. Ele me explicou que, exceto por documentos ou objetos que permitissem identificar e localizar o dono, nada deveria ser levado para casa. E completou: “Nunca aceite recompensa por fazer o certo. Fazer o certo é nossa obrigação.”

Essas lições me acompanharam por toda a vida. Já encontrei celulares, carteiras recheadas de dinheiro, objetos de valor — e mesmo em momentos difíceis, em que os recursos escasseavam — jamais hesitei em devolver ao legítimo dono. O eco da voz do meu pai sempre falou mais alto: “Quem rouba um tostão, rouba um milhão.”

Esse velho ditado, que ele repetia com firmeza, resume bem o que hoje vemos nos escândalos que envergonham o país. O hábito de furtar começa pequeno, silencioso, e cresce em escala quando encontra justificativas, cumplicidade e impunidade. É por isso que nunca será exagero educar com rigor moral desde cedo.

Meu pai foi um homem simples, mas extraordinário. Ele compreendia que a maior herança que poderia deixar aos filhos era o caráter. E deixou. Que possamos, como sociedade, entender que a reconstrução moral do Brasil começa dentro de casa — com pais presentes, exemplos vivos e coragem para dizer “não” quando for preciso. Afinal, um Brasil mais honesto começa com lares mais comprometidos com a verdade.

*Jornalista e Professor


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